São Bento… “O homem de Deus que brilhou nesta terra”!

“O homem de Deus que brilhou nesta terra com tantos milagres, não resplandeceu menos pela eloqüência com que soube expor a sua doutrina” (São Gregório Magno – Dial. II, 36).
É com o coração cheio de alegria e devoção que celebramos hoje a vida de um homem que se fez modelo de entrega total a Deus: São Bento de Núrsia, ou, para a grande maioria, apenas São Bento!
A principal fonte sobre a vida de São Bento provém dos Diálogos, de autoria de São Gregório Magno, escritos por volta do ano 592, o qual se baseou nos relatos dos próprios monges que viveram com o santo varão.
São Bento, segundo nos relata seu hagiógrafo, nasceu na província de Núrsia, na Itália, por volta do ano 480. Ainda jovem, foi enviado por seu pai, um nobre italiano, para estudar em Roma, contudo, não passou muito tempo por lá. Decepcionado com o estilo de vida de muitos de seus colegas de estudo, e com a sociedade romana como um todo, Bento, desejoso de “agradar somente a Deus” (“soli Deo placere desiderans” – II Dial., Prol. 1), retirou-se para a solidão com Deus à leste da cidade, para uma aldeia chamada Effide (atual Affile).
Lá, o jovem Bento passa a viver como eremita numa gruta na cidade vizinha, chamada Subiaco. Tal período foi para Bento um tempo de maturação espiritual. Segundo o Papa Bento XVI, “ali tinha que suportar e superar as três tentações fundamentais de cada ser humano: a tentação da auto-suficiência e do desejo de se colocar no centro, a tentação da sensualidade e, por fim, a tentação da ira e da vingança”. Bento sabiamente pensava que, afinal, só poderia dizer algo de útil aos outros após ter vencido as tentações e pacificado a sua alma. Funda, então, no vale do Anto, próximo a Subiaco, os primeiros mosteiros. Sua fama de santidade já se espalhava por toda a região.
No ano de 529, São Bento decide deixar o vale do Anto e se estabelecer em Montecassino. Foi, pois, uma decisão bastante significativa. Não apenas por demonstrar uma nova fase na vida monástica do santo Abade, mas também pelo simbolismo que representava para a Igreja como um todo, visto que Montecassino, situado em altas montanhas, representava a publicidade e visibilidade da fé como uma força vital, vindo a ser, pois, o fundamento da Ordem Beneditina.
Em 534 começa o santo, então, a redigir a famosa Regra de São Bento, ou Regula Monasteriorum (Regra dos Mosteiros), a qual, segundo o próprio São Bento, é “mínima, traçada só para o início” (73, 8), mas se apresenta, pois, como um tesouro, não apenas para os monges, mas também para nós, na nossa vida cotidiana, um guia para aqueles que buscam um caminho que leve a Deus.
Ainda de acordo com São Gregório Magno, a santificação de São Bento, deve-se à sua vitória em duas ciladas armadas pelo inimigo de Deus.
Na primeira, lhe foi oferecido, por monges de um primeiro mosteiro ao qual São Bento foi convidado para ser o Abade, os quais tentavam matá-lo pela sua total obediência aos preceiros divinos, um cálice com vinho envenenado, o qual quebrou, como se tivessem-lhe lançado uma pedra, após o santo Abade ter feito sobre ele o sinal da Cruz.
E em outra ocasião, é oferecido ao santo um pedaço de pão, também envenenado, o qual pega o pão, entrega a um corvo que sempre vinha comer em suas mãos, ordenando-lhe que leve o pão para longe, onde não pudesse ser encontrado, e assim a ave o faz.
Contudo, muitas outras foram as graças recebidas de Deus por São Bento, em sua vida terrena, a qual chegou ao fim em 21 de março de 547, em Montecassino, onde faleceu, de pé, apoiado por seus monges, e de braços abertos, para receber a glória de Deus, durante a celebração da Santa Missa.
Comemoramos sua vida no dia 11 de julho por ser o dia em que suas relíquias foram trasladadas para a Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire (Fleury), próximo a Orleáns e Germigny-des-Prés, no centro da França.
Mas, afinal, o que nos deixa São Bento?
Além da Regra, lega-nos um modelo de oração. Sua vida foi, pois, uma intensa oração. De acordo com o nosso Papa Bento XVI, “sem oração não há experiência de Deus”, e ainda, ao tratar da vida espiritual do Santo Padroeiro da Europa e de seu Pontificado, afirma o Santo Padre: “mas a espiritualidade de Bento não era uma interioridade fora da realidade. Na agitação e na confusão do seu tempo, ele vivia sob o olhar de Deus e precisamente assim nunca perdeu de vista os deveres da vida quotidiana e o homem com as suas necessidades concretas. Ao ver Deus, compreendeu a realidade do homem e a sua missão”.
Faz-nos ver, enfim, o santo Abade, como deve ser nossa vida em comunhão com Deus, “em tudo sendo Deus glorificado” (57, 9), sempre através da máxima “ora et labora” (ora e trabalha).
A Regra de São Bento
A Regula Monasteriorum, também denominada Regula Monachorum, é composta por um prólogo e 73 capítulos. É possível que ela não seja inteiramente composta por São Bento, mas criada por ele inspirando-se em uma regra mais antiga, a Regula Magistri, composta por autor desconhecido, na mesma região da Itália, trinta anos antes da composição da Regra de São Bento, fato este que em nada diminui a Regra composta por ele, visto que só demonstra a preocupação e dedicação de São Bento por elaborar um conteúdo de qualidade para aqueles que buscavam um caminho para Deus. A mesma possui as seguntes divisões temáticas:
  1. Estrutura fundamental do mosteiro: capítulos 1-3
  2. A arte espiritual: capítulos 4-7
  3. Oração comum: capítulos 8-20
  4. Organização interna do mosteiro: capítulos 21-52
  5. O mosteiro e suas relações com o mundo: capítulos 53-57
  6. A renovação da comunidade monástica: capítulos 58-65
  7. Porta do Mosteiro e Clausura: capítulo 66
  8. Acréscimos e complementos: capítulos 67-72
  9. Testemunho pessoal de São Bento sobre a Regra: capítulo 73
Evolução histórica
São Bento de Aniane retoma a regra no século IX, antes das invasões normandas; ele a estudou e codificou, dando origem a sua expansão por toda Europa carolíngia, ainda que tenha sido adaptada diversas vezes, conforme diversos costumes. Posteriormente, através da Ordem de Cluny e da centralização de todos os mosteiros que utilizavam a Regra, ela foi adquirindo grande importância na vida religiosa européia durante a Idade Média. No século XI surgiu a reforma de Cister, que buscava recuperar um regime beneditino mais de acordo com a regra primitiva. Outras reformas (como a camaldulense, a olivetana ou a silvestriana), buscaram também dar ênfase a diferentes aspectos da Regra de São Bento.
Apesar dos diferentes momentos históricos, nos quais a disciplina, as perseguições ou as agitações políticas causaram uma certa decadência da prática da Regra de São Bento, e mesmo da população monástica, os mosteiros beneditinos conseguiram manter, durante todos os tempos, um grande número de religiosos e religiosas. Atualmente, perto de 700 mosteiros masculinos e 900 mosteiros e casas religiosas femininas, espalhados pelos cinco continentes, seguem a Regra de São Bento, o que demonstra, mais de 1500 anos após a sua elaboração, a força divina presente em suas páginas.
A Cruz de São Bento
A origem da Cruz-Medalha de São Bento é incerta. Sabe-se que ela foi redescoberta em 1647, em Nattremberg, na Baviera, por ocasião da condenação de algumas bruxas, que afirmaram não conseguir praticar qualquer tipo de feitiçaria ou encanto contra lugares em que houvesse a imagem da Cruz, em especial, a abadia de São Miguel, em Metten. Intrigados com o fato, as autoridades foram averiguar o que existia no mosteiro. Ao entrarem em uma das dependências, observaram entalhadas nas paredes, imagens da cruz tal como estão representadas nas Medalhas utilizadas hoje.
Na biblioteca dessa mesma abadia, encontraram um manuscrito do ano de 1415, o qual continha, além de textos, ilustrações, sendo uma delas a de São Bento, com uma cruz e uma flâmula, com os versos da medalha: “Crux sacra sit mihi lux, non draco sit mihi dux. Vade retro satana, nunquam suade mihi vana. Sunt mala quae libas, ipse venena bibas”. Por esse motivo, estima-se que a origem da imagem da medalha situa-se no século XV.
A medalha, com algumas variações, possui na frente a imagem de São Bento, vestindo o traje monástico – chamado cógula – trazendo na mão direita uma cruz e na mão esquerda uma flâmula ou livro aberto, que representa a Regra. No verso, há uma imagem da cruz. Ambas as faces trazem inscrições em latim, seja apenas letras ou em palavras, a saber:
  • Na frente da medalha:
“Ejus in obitu nostro praesentia muniamur” = Sejamos protegidos pela sua presença na hora de nossa morte.
  • No verso:
C S P B: Crux Sancti Patris Benedicti – Cruz do Santo Pai Bento
C S S M L: Crux Sacra Sit Mihi Lux – A Cruz Sagrada seja minha luz
N D S M D: Non Draco Sit Mihi Dux – Não seja o dragão o meu guia
V R S: Vade retro, satana! – Para trás, satanás!
N S M V: Nunquam Suade Mihi Vana – Nunca me aconselhes coisa vãs
S M Q L: Sunt Mala Quae Libas – É mau o que tu me ofereces
I V B: Ipse Venena Bibas – Bebe tu mesmo o teu próprio veneno
Essa oração, acrescida da jaculatória “Rogai por nós bem aventurado São Bento, para que sejamos dignos das promessas de Cristo”, se tornou uma fórmula de oração a São Bento.
Em 1742, o Papa Bento XIV aprovou a medalha, concedendo indulgências a quem a usar e estabelecendo a oração do verso da medalha como uma forma de exorcismo, que se tornou conhecida como Vade retro Satana. Atualmente, uma forma comum da medalha é a que vemos nessas ilustrações, conhecida como Medalha do Jubileu, pois foi cunhada em 1880 por ocasião do XIV Centenário do nascimento de São Bento, pelos monges de Beuron para a abadia de Monte Cassino. Essa medalha acrescenta a palavra pax – paz – no alto da cruz e aos pés de São Bento os dizeres Ex S.M. Casino MDCCCLXXX – Do Santo Monte Casino – 1880.
Requisitos para o uso da medalha
O uso habitual da medalha tem por efeito colocar-nos sob a especial proteção de São Bento, pricipalmente quando se tem confiança nos méritos de grande santo e nas grandes virtudes da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
São numerosos os fatos maravilhosos atribuídos a esta medalha. Ela nos assegura poderoso socorro contra as ciladas do demônio e também para alcançar graças espirituais, como conversão, vitória contra as tentações, inimizades, etc., e igualmente nos protege contra os acidentes de toda espécie. Contudo a medalha não age automaticamente contra as adversidades, como se fosse um talismã ou varinha mágica.
Todo cristão, a exemplo de Jesus Cristo, deve carregar a sua cruz. Pois, é necessário que nossas faltas sejam expiadas; nossa fé seja provada; e nossa caridade seja purificada, para que aumentem nossos méritos.
O símbolo de nossa redenção, a cruz, gravada na medalha, não tem por fim nos livrar da prova; no entanto, a virtude da cruz de Jesus e a intercessão de São Bento produzirão efeitos salutares em muitas circunstâncias; a medalha concede, também, graças especiais para hora da morte, pois, São Bento, como São José, são padroeiros da boa morte.
Para se ficar livre das ciladas do demônio é preciso, acima de tudo, estar na graça e na amizade de Deus. Portanto, é preciso servi-Lo e amá-Lo, cumprindo todos os deveres de justiça; em uma palavra, cumprimento de todos os mandamentos da lei de Deus e da Igreja.
Nem o demônio, nem qualquer criatura, tem o poder de prejudicar verdadeiramente uma alma unida a Deus.
Em resumo, o efeito da medalha de São Bento depende em grande parte das disposições da pessoa para com Deus e da observância dos requisitos acima mencionados.
Recomenda-se, ao final, aos que usarem a medalha, rezarem diariamente as orações cujas iniciais estão na medalha, acrecentando o Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai.
Oração para obter qualquer graça
Ó Glorioso Patriarca São Bento, que vos mostrastes sempre compassivo para com os necessitados, fazei que também nós, recorrendo à vossa poderosa intercessão, obtenhamos auxílio em todas as nossas aflições; que nas famílias reine a paz e a tranquilidade; e que se afastem de nós todas as desgraças tanto corporais como as espirituais, especialmente o mal do pecado. Alcançai do Senhor a graça que vos suplicamos, (faz-se o pedido). Finalmente vos pedimos que, ao término de nossa vida terrestre, possamos ir louvar a Deus convosco no Paraiso. Amém.